«Estes textos são apenas ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.»

domingo, 30 de agosto de 2020

Um mendigo de amor sem lugar fixo para amar.


A verdade é que se quisesse agradar a todos, seria muito pouco de tudo e pouco de quase nada. Um mendigo de amor sem lugar fixo para amar.

Sou assim


Uns, creem-me simples, outros, arrogante. Uns, gostam do que escrevo, outros, nem por isso. Uns, entendem-me, outros julgam entender-me, e outros ainda não me vão nunca entender...

Amo o mar...



Amo o mar, a praia, as ondas, a areia e o sol.
Amo a chuva, o vento, as trovoadas, as poças de água e as folhas caídas...

sábado, 22 de agosto de 2020

GOSTAVA DE PASSAR O RESTO DA MINHA VIDA CONTIGO A MEU LADO




Estava uma daquelas noites perfeitas com uma brisa suficiente para não  nos deixar nem com calor nem com frio, e ficámos horas a conversar e a beijarmo-nos antes de adormecermos nos braços um do outro.
Saudades de ti amor mio

ADORO O TEU AROMA



Cheguei-a mais a  mim
Para inalar o seu perfume
O  seu cabelo emanava um aroma doce
Fez-me lembrar morangos maduros

Continuo a amar-te Sabrina

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

GOSTO DA ÉPOCA DAS VINDIMAS


Gosto da época das vindimas
Gosto do cheiro das uvas
Gosto do cheiro do mosto
Hoje a minha casa está impregnada destes cheiros
Momentos da  minha infância estão a vir ao de cima
Adoro estes momentos

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

HOJE O DIA AMANHECEU ESTRANHO



O silêncio era tal que preferi ouvir o vento.
Acordar, lavar o rosto, tomar o café da manhã e vestir um sorriso!!
Fingir que está tudo bem, coisas do dia a dia.
O que era rotina hoje é saudade...
É difícil expressar o vazio que estou a sentir.

Dizem que a vida nem sempre é como idealizamos, mas o que eu nunca imaginei foi que a terceira segunda feira do mês de agosto fosse mais um dia normal do ano.
Um dia cheio de nada, de um silêncio ensurdecedor.




sábado, 15 de agosto de 2020

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

HÁ MUITO TEMPO QUE O NÃO FAZIA


Hoje deitei-me no sofá.Fechei os olhos.
E os anos começaram a andar para trás,
Como os ponteiros de um relógio rodando em sentido contrário.
Encontrei as razões do que aprendi com a idade.
Até encontrei o tempo da minha inocência.
Anos agitados fizeram parte da minha vida.

UM DIA QUERO SABER DO TEU PASSADO




Essa névoa que tens contigo faz com que andes sempre triste.
Sei que o teu passado está marcado de sofrimento.
De dor.
Um dia destes quero saber o teu passado.
Quando souber escreverei as tuas palavras no Livro da Vida.
Não gosto de ver a tua cara triste.
E muito menos os teus olhos cor de avelã sempre com uma lágrima

FECHEI OS OLHOS E VOLTEI NO TEMPO




Quando tinhas amor de verdade por mim
Amor verdadeiro
Soubeste tocar na minha alma
Mas hoje a alma que viveu para ti já não se lembra de quem tanto amou
O tempo tudo apaga.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

UM DIA REGRESSAREI AO MEU CÉU.

Sei que um dia vou querer voltar cá a baixo, porque é aqui que aprendo mais sobre quem sou. Lá em cima, vou descansar entre vidas. Sorrir sem motivo. Tornar-me no anjo preferido do meu deus…

Não tem magia

Já não perco tempo com aquelas conversas sérias que alguém acha que deve ter comigo. Prefiro sorrisos e gargalhadas e um bom copo de vinho ou uma cerveja bem fresca. Que se dane a seriedade. Aborrece-me. Mata-me. Não tem magia

Gosto que a minha vida não tenha muitas repetições. Prefiro muito mais mudar a maneira como faço muitas das minhas coisas do que permitir fazê-las em esforço ou por excesso. Adoro alterar a forma como faço tudo, acima de tudo porque a mesmice inquieta-me, tira-me a graça, afasta-me da minha viagem. A verdade é que não nasci para repetir. Nasci antes para criar tudo aquilo que me mantém afastado da repetição.

LINDA COMO SEMPRE


Conheci-te pela primeira vez quando tinha os meus 7/8 anos;
Quando tinha os meus 19 vivi em ti alguns meses.
Foi nesta altura que me marcaste e por ti me enamorei.
Mais tarde visitei-te por várias razões.
Vários encontros tivemos e várias vezes pisei os teus passeios,
Junto do teu rio senti aquilo que só quem ama é que sabe dar o valor.
Continuo a dizer:
És a cidade mais linda do mundo.

ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS


JA FUI FELIZ AQUI
VOU VOLTAR A SÊ-LO
ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

O NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO



Lembro-me como  fosse hoje:
Eram 12.20h quando cheguei à estação de Coimbra.
Ela estava encostada a um dos muitos pilares da estação.
O sinal era:
“Terei  encostada à minha cara uma revista”.
Quando desci estava a dois ou três metros dela.
Uma mulher linda olhava para quem saía.
Reconheci-a logo.
Quando me dirigi a ela.
“Oi…”
Reconheceu-me logo (já lhe tinha enviado a  minha fotografia)
Ri-me.
Reparei que ela estava nervosa por causa do  nosso primeiro  encontro.
“Vamos alí  ao bar tomar um café!” disse-me.
As suas mãos tremiam.
Não lhe disse nada.
Tinha uns olhos lindos.
Cabelos compridos,
Bem cuidados,
Côr de avelã,
Perfumada com  aroma da essência de Jasmim.
(Uma cheiro que  nos acompanharia no futuro)
Pensei para comigo:
Vou ser feliz com a OTIS.
Não me deixou pagar o gasto.
“Agora vamos  almoçar a Santa Lúzia”.
Pela primeira vez comi Picanha.
Enquanto almoçávamos nunca tirei os olhos dela.
Linda de morrer.
Uns olhos que me queimavam por dentro.
Meu Deus…
OTIS estava atrapalhada por tanto a olhar.
“Porque me olhas desse jeito?”
És linda de  morrer.
Depois do almoço  levou-me a passear pela cidade.
Mostrou-me a Faculdade onde estudou e onde se formou.
Depois de formada decidiu ficar a trabalhar em Coimbra.
Apenas ia à sua terra natal passar férias  no Verão  porque tinha lá a sua mãe  para além da  casa que lhe permitia estar a curta distância da praia.
Bem no Sul.
Falamos de nós e do  mundo de cada um.
A tarde já ia a meio quando me levou aos jardins do  Buçaco.
Encaminhou os nosso passos para próximo de uma queda de água onde apenas se ouvia o cair da água.
Por cima de nós os ramos da velha árvore escondia-nos de olhares estranhos.
Sentamo-nos, bem juntinhos um do outro, em cima do banco de pedra que era pertença do Hotel, que ficava mais além.
Ela não falou,
Nem eu,
Mas…
Os seus olhos enlouqueciam-me,
O cheiro do perfume fazia com que eu tivesse outros pensamentos,
A perfeição do seu corpo…
Sentia a minha alma ardente e o meu coração carente.
Abracei-a com desejo e ansiedade.
Beijei-a de  forma estranha.
Todo eu entrei na sua boca.
Senti a sua língua doce e quente na minha boca.
Enquanto a abraçava e beijava as minhas mãos acariciavam as suas mamas.
Momentos únicos e muito nossos que se repetiriam durante muito  tempo.
A tarde estava a acabar quando me levou  à estação para o meu regresso.
Despedimo-nos como se nos amassemos há muito tempo.
No dia seguinte tinha na minha caixa de correio estas palavras:
“Toda a noite senti as tuas mãos nas minhas mamas!”
Respondi-lhe:
E eu a tua camisola em cima das minhas mãos.
Durante  três anos fomos amantes.
Três anos de felicidade em que a OTIS me ensinou a amar e a ser amado.
Que me despertou em mim aquilo que eu não sabia que possuía.
Que me ensinou a vestir e a gozar o bom da vida.
Um amor verdadeiro,
Sem interesses de ambas as partes.
Um amor  puro.
Mas acima de tudo um grande amor.
“Tens que resolver a tua vida para que possamos viver junto
Quero-te só para mim,
Quero que sejas só meu.
Quero que morramos os dois abraçados um ao outro a fazer amor,
Quero-te dar um filho e quero ter uma filha de ti,
…”
Deu-me um prazo porque eu era casado.
Resolvi a situação da melhor maneira.
Divorciei-me.
Casamos numa tarde de Santo António.
E numa tarde de Verão não nasceu o nosso filho mas sim a nossa filha.
Linda como a mãe!
Nas nossas primeiras férias fomos para Messines para festejar o segundo aniversário do nosso grande amor junto da mãe de OTIS.
Ao entrarmos na primeira curva de S. Bartolomeu, OTIS perdeu o domínio do carro.
Quando acordei no hospital tinha junto de mim uma enfermeira que me segurava  uma mão.
Perguntei-lhe pela minha mulher e pela minha filha.
Não sei o que me disse nem sei a razão do tempo ter parado.
O meu grande amor tinha morrido no acidente.
Com ela levou o nossa filha.
Nunca mais fui o mesmo.
Dentro de mim uma enorme dor  vai-me  consumindo aos poucos.
O mundo deixou de ser mundo para mim.

*

Ontem à noite falei com a minha amiga Sabrina.
Estava aborrecida com ela própria.
Disse-me que a vida é-lhe   “sempre mais do mesmo!”.
Pediu-me para que hoje escrevesse qualquer coisa.
Gosta de me ler todos os dias.
Prometi-lhe que o faria, para a animar.
“Escreve algo sobre ti.”
O que escrevi é  para ti Sabrina para que não penses que a vida é  sempre mais do mesmo.


terça-feira, 11 de agosto de 2020

HOJE A SABRINA ESTÁ ABORRECIDA



Talvez porque não lhe deem a atenção que merece.

Convidei-a para irmos até à nossa praia
Prometi-lhe que pelo caminho a mimava
Que a consolava
Que a beijava
E que na nossa praia lhe oferecia um gelado de chocolate com baunilha.
Respondeu-me:
“É sempre mais do mesmo”
Afinal o que tu queres Sabrina?
Fazer amor?
Então foge de onde estás e bate-me à porta.
Amanhã antes de nascer o Sol levo-te de regresso ao local onde não és feliz.

Está escrito nas estrelas




Tudo quanto pensei, tudo quando sonhei, tudo quanto fiz ou não fiz, tudo isto irá comigo num Outono que vai chegar.
Está escrito nas estrelas.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

FAZER UMA ‘ESCAPADINHA’ NO ‘TALASNAL’ É UMA PAIXÃO



Tenho uma amiga que adora fazer  ‘escapadinhas’ nas  casinhas do Talasnal.
“É uma paixão”.
Diz-me a Sabrina.
Quando se sente cansada ou esgotada psicologicamente,
Aí vai a minha amiga para mais uma escapadinha.
Ontem estive a falar com ela.
Disse-me que ainda esta semana vai até lá.
“Não por um ou dois dias mas uma semana ou mais.
Preciso de arejar e…
Adoro nas noites amenas de Verão sentar-me num banquinho que lá tenho guardado e depois inspirar aquele ar puro vindo da serra.
Nem sabes o quanto me faz bem!”.
Gosto muito da minha amiga Sabrina.
Já a conheço vai para alguns anos.
É linda.
Pequenina mas tem uns cabelos muitos bonitos
Cor de avelã.
Sempre bem cuidados.
Olhos pretos como uma azeitona
Gosto da Sabrina.
Lá por ser pequenina tem um coração do tamanho do mundo.
Gosta muito de escrever
E…
Escreve bem.
Enquanto falávamos mostrou-me um pequeno esboço que escreveu para publicar nas redes sociais.
Fiquei emocionado.
O que escreveu mexeu em mim.


"Vai-me visitar.
Estar no Talasnal é mais do que uma paixão porque há lugares de onde nunca se regressa, apenas se permanece.
Sabes que dormir num local mágico e de xisto é maravilhoso?"
Porque gosto muito desta ‘pequenina” mas grande amiga, sem ela saber, vou-lhe fazer uma surpresa.
Vou visitá-la.
Depois convido-a para irmos almoçar, ou jantar, à  “Ti Lena”, um restaurante onde se come um cabrito delicioso que até se desfaz na boca ou uma chanfana que é de comer e chorar por mais.




sexta-feira, 7 de agosto de 2020

NÃO SEI EXPLICAR O MISTÉRIO


Acabei de chegar agora ao meu Castelo vindo do meu passeio.
Uma noite estranha e fresca.

Vi pouca gente nas passeatas da noite.
Três mulheres para cima.
Um casal de namorados apaixonados para baixo.
Meu Deus como ela se tinha perfumado…
Conheço aquele aroma…
Uiii!...
No meio uma mulher solitária com o seu cão.
A minha AIKA lambeu quem fazia companhia a quem vinha no meio.
De nariz empinado como a dona nem ligou a quem ia comigo.
Para a próxima trocamos de passeio.
Quando caminho de noite gosto de descer pela terra e subir pela escadaria.
Às vezes encontro quem me deu o gatinho mais lindo do mundo.
Estranhamente nunca mais a vi mas sei que amanhã já é minha vizinha outra vez.
Quando desci contei 54 degraus
Quando subi 55.
Mas que coisa.
Para cima há mais degraus do que para baixo?
Amanhã vou lá novamente contar os degraus que me levam para a parte de baixo.
Quero ter a certeza se são outros tantos como os que me trazem para a Avenida do Planalto.

NO MEU QUARTO DURMO ATÉ SER DIA EM LENÇÓIS DE LINHO


POUCO ME IMPORTA AS HORAS,
O QUE ME INTERESSA É QUANDO ACORDAR OS MEUS LÁBIOS SABEREM AOS PRAZARES DA NOITE.
AMO-ME

NUNCA ME CANSEI DE SER O QUE SOU


E ESTOU À ESPERA DO QUE AINDA NÃO FUI

Zacarias, um filósofo na cidade



António Centeio

Homem de seus quarenta e poucos anos, sempre vestido de preto, expressão triste, faz-se acompanhar de um bengali. Passa os dias sentado num banco do jardim que confronta com a avenida, talvez a mais antiga da cidade. Entre o corpo e o braço um enorme calhamaço o acompanha sempre para que nos tempos livres puxe dos óculos, cujas lentes de tão grossas serem, faz admirar quem para elas olha.
Torna-se uma figura esquisita pela escuridão que o acompanha como na forma estranha de se vestir. Meses e meses com o mesmo tipo de roupa, que em abono da verdade, de suja não tem nada. Sempre limpa e bem vincada. Usa perfume, cujo aroma indica que não deve ser qualquer mixórdia.
Todas as noites vagueia pelas ruas da cidade. O seu andar torna-se esquisito, por causa das enormes passadas que dá, tornando difícil, a quem tem o privilégio de acompanhá-lo, aguentar a sua pedalada.
Recita com suavidade a razão da lógica a quem se lhe oponha na contraposição dos factos. Sabe justificar que: «desde os primórdios sempre houve e haverá o domínio da minoria sobre a maioria»; que o mestre «não escreveu mas outros transcreveram aquilo que ouviram»; que o homem «aceita o vulgo mas critica o conhecedor». Suaviza com parábolas as «dores daqueles que vivem de lamentos e crêem na fé quando na verdade lhes se ajusta a educação para socializarem-se na hipocrisia». A prova está: quando olham para ele, vendo no seu corpo aquilo que este recolhe e esconde, para o julgarem aquilo que não é mas que querem que seja. A sociedade é uma palhaçada. Vive de aparências quando deveria viver de realidade. Se Zacarias mandasse, obrigaria toda as pessoas a estudar filosofia.
As suas críticas tornam-se suaves para quem as ouve. Deixa a quem o ouve a duvida e o pensamento aberto para se entreter como num jogo de xadrez se por acaso se refere a fulano ou beltrano. A ser juiz, seria tolerante, porque antes de condenar ou julgar vai ao cerne da causa. Só depois de compreender a atitude de quem praticou o acto é que faz o julgamento, noticiando, então, a quem seu par ou ouvinte está a ser.
Só regressa a casa depois de ter percorrido as principais artérias da urbe. Nunca se deita antes das três da matina. Conhece os barulhos vindos dos lugares mais esquisitos como no silêncio da noite consegue ouvir rumores das conversas íntimas – que quem as diz, se esquece que no silêncio do escuro até o vibrar de uma corda de violino tem outro som. Conhece de ginjeira os vadios e os locais onde se trafica como dos que se escondem por debaixo dos degraus de escadas, dando o seu charrito.
Se algum mais íntimo lhe pergunta a razão porque anda sempre vestido de preto, se não lhe faleceu, que se saiba, alguém próximo, responde com frases ditas de uma forma que até parece que está a ler as palavras que estão escarrapachadas no livro.
«Meu caro e ilustre amigo, à sua pergunta respondo-lhe citando o meu velho mestre – não diz o porquê do “mestre” ou quem o é – Steinbeck «É extraordinário a forma por que uma pequena cidade toma conta de si própria e de todas as suas unidades. Se casa homem e mulher, jovem ou criança, agir e se conduzir segundo um padrão conhecido e não ultrapassar as barreiras, e não quiser ser diferente dos outros, não fizer experiências novas e não adoecer e não puser em perigo a tranquilidade e a paz de espírito ou o fluir incessante e ininterrupto da cidade, essa unidade pode desaparecer e nunca mais se fala dela. Mas basta um homem abandonar os conceitos normais ou os padrões conhecidos e seguros, para os nervos dos cidadãos vibrarem de nervosismo e a comunicação percorrer todas as fibras nervosas da cidade. Nessa altura, casa unidade está em contacto com o todo» – Respondi-lhe de vosso agrado?»
Se todos sabem, porque o vêem o assim vestido e poucos ouvem os seus discursos predilectos gravados na sua memória como os seus argumentos que raramente encontram oposição válida, porquê então lhe perguntar a razão do que é público? Quanto muito, Zacarias não é melhor nem pior do que todos nós, é apenas diferente.

No caminho das Fazendas



Por: António Centeio



O livro da vida será sempre um livro fechado. Nunca sabemos o que lá está escrito. Se pudéssemos saber não deixaríamos a vida pregar-nos partidas.
Quando menos esperamos, vai daí, mais um turbilhão. Uns para cima outros para baixo. O pior de todos é aquele que leva as pessoas para baixo e depois não se conseguem levantar. Os outros, mais tarde ou mais cedo levantar-se-ão para continuar o caminho. Alguns são bem tortuosos outros íngremes. Também há pessoas que os procuram; outros fogem deles a sete pés.
Existem pessoas que só se sentem bem quando estão metidos em sarilhos. Somos como somos. Devemos compreender e tolerar as decisões de cada um. Razão tinha o poeta quando disse que deveríamos «projectar a nossa vida apenas por dias». O tempo se encarregará do resto.
Abílio foi até aos trinta anos um homem exemplar. Bom marido, bom pai e um óptimo trabalhador. Era servente de pedreiro. Profissão que exige um enorme esforço físico para além de ter como companhia, o frio, a chuva e o calor. Quando vinha às sextas-feiras, depois de ganha a semana, o seu percurso tinha que sofrer um interregno no caminho das Fazendas. Os amigos faziam o mesmo. Ficava-lhe mal não se associar. Conversa daqui conversa dali, os petiscos eram sempre regados de copitos de tinto.
Quando chegava a casa, a mulher já sabia o que a esperava. Rádio aos altos gritos e toca a dançar em pleno quintal até as tantas da manhã. O filho, um petiz, quisesse ou não, tinha que assistir à festa que para não variar acabava sempre numa valente cena de pancada para quem não merecia e muitos menos para quem olhava e ouvia a linguagem usada. Nada podia fazer, senão também sobrava para ele.
Há pessoas que gostam de levar pancada, como viver na lamúria, em vez de procurarem melhores caminhos ou novas vidas.
A vizinhança dizia muitas vezes que «certas mulheres, quanto mais lhe batem mais gostam dos maridos». A Abelina era uma destas. Uma vez foi parar ao hospital com um braço partido. Como não tinha juízo poucos dias depois levou uma tal sova que as aduelas foram dentro. Nunca reclamava do que lhe acontecia.
A sua satisfação era quando o seu Abílio a levava a passear na motorizada até à Nazaré. Sentavam-se tardes inteiras a olhar para o mar. O filho só deixou de ir quando já não cabia no meio dos dois e os homens da brigada de trânsito teimaram em começar a passar umas multazinhas.
Perdoava-lhe e esquecia-se de tudo. O Abílio quando abria a boca o hálito cheirava mais mal que uma panela de feijocas estorradas. Anos e anos durou este calvário. Meteu na cabeça que devia ter uma amante e bem o fez.
Mais valia valentes cargas de porrada que o seu homem ter outra substituta para os tempos livres. Não bastava o que tinha que aturar quando o marido parava nas Fazendas quanto mais agora seguir caminho para junto da matrona. Se levava porrada começou a levar mais, não pelas bebedeiras que apanhava mas porque precisava de dinheiro e não o tinha.
O filho só exigia roupas de marca. Não estava para sofrer mais. Um dia lembrou-se de dizer que a sua «vida não era uma vida como a das outras pessoas». Agarrou nas malas e aí vai ela para junto de mãe, ali, para os lados de Rio Maior. Nunca o Abílio pensou ter uma surpresa destas.
Pena foi que o filho comesse pela tabela, sendo apanhado no meio da tempestade quando menos esperava. O pequeno sentiu o desabar de tudo. Porque lhe faltava o seu mundo foi desabafar para junto de quem nunca deveria ter ido. Hoje, vive de expedientes com os amigos para dormir debaixo dos vãos de escada que encontra pela cidade.
A prisão já lhe fez companhia algumas vezes. Como nunca conseguiu abrir o livro da sua vida, em vez de vir melhor quando saiu da prisão ainda veio pior. Sabe mais daquilo que nunca deveria saber.