«Estes textos são apenas ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.»

sábado, 27 de junho de 2020

SOPHIA TUDO TEU QUE ESTÁ EM MIM E COMIGO JAMAIS SE PERDERÁ




Disse-me o amor da minha vida:


"Levaste a minha vida,
a minha alma.
Está tudo contigo.
Só o corpo está comigo.
o resto está em ti".

Sophia tudo teu que está em mim e comigo jamais se perderá.
Porque nos amamos como dois apaixonados.
Como é grande o teu amor por  mim
E como o meu amor por ti é grande.

SOPHIA TUDO TEU QUE ESTÁ EM MIM E COMIGO JAMAIS SE PERDERÁ

Na terra da pisa da lã







António Centeio

Algumas pessoas dizem que o que sucedeu foi há mais de cem anos, outras dizem: tudo para mais de cinquenta. Uma coisa sabe-se: aconteceu.
Os tempos eram difíceis como difícil era arranjar trabalho. Era na agricultura que estava a sobrevivência dos mais necessitados e desfavorecidos. Talvez, como nos dias que correm, na altura, os pequenos proprietários que possuíam pequenas áreas de terrenos cultiváveis eram aqueles que precisavam sempre de mão-de-obra barata. Davam trabalho como podiam fazer uma maior selectividade a quem pagar menos mas que trabalhavam mais. Aqueles que não encontravam trabalho no campo tinham que viver da caridade do alheio como da ajuda do Estado, que lhes dava alimentação nas então chamadas «casa de sopa».
Na época do frio e da chuva, os terrenos agrícolas dispensavam a presença do homem, quer porque a poda já estava feita quer por a chuva ter enlameado a terra ou ainda porque as subidas da água do rio Tejo tinha ensopado tudo que era campo.
Nestas alturas, só conseguia ter trabalho os melhores trabalhadores. Eram os enxertadores de videiras os mais procurados para se deslocarem para várias zonas do país, onde a plantação da videira era o sustento de quem as possuía. Zonas que não eram banhadas pelas cheias do Tejo.
Vinham de carroça para as bandas da lezíria ribatejana procurar quem quisesse ir «podar videiras» que começavam a chorar por não terem quem as tratasse. Durante semanas inteiras, estes homens especialistas numa arte difícil separavam-se da mulher e dos filhos em troca de mais alguns rendimentos. Mesmo que poucos fossem, ajudaria com certeza quem deles dependia.
Partiam em grupo nas suas bicicletas, carregadas de mantimentos e alguma roupa. Levavam chouriços, toucinho e carne salgada de porco como ainda grossas postas de bacalhau para que em quanto, estivessem na «maltesaria» não tivessem que gastar o pouco que iam ganhar.
Sujeitavam-se a passar o pior como a alimentarem-se mal. Sentiam na pele o peso da chuva e do frio. De mãos gretadas pelo frio e vento seco, que lhes entrava pelas entranhas, fazendo com que: quanto estavam no meio das videiras, muitas vezes as lágrimas lhes corresse pela cara, de tanto frio suportarem. As suas orelhas ficavam cheias de enormes gretas já que o gelo quase as amputava. Sofriam em silêncio e mordiam os lábios revoltados contra a vida e a miséria que lhes fazia companhia.


Valia-lhes a garrafinha com aguardente que tinham sempre dentro do bolso. Era esta receita que lhes dava força e os aquecia para suportarem aquilo que o tempo teimava em dar a quem menos merecia.
A fama de tais enxertadores era conhecida. Todos os anos vinham de longe contratá-los. Eram os melhores dos melhores. Mas a abundância de uns ou a inveja de outros levam a que aconteçam coisas que mais não são do que «coisas do arco-da-velha». Pobre do homem quando é humilhado por um seu igual e mal da sociedade quando espezinha quem mais precisa.
Foi numa destas alturas que apareceu um «bem-falante» procurando vinte enxertadores para irem podar a vinha de «um importante senhor» ali para os lados de Arruda dos Vinhos. Promessas de uma boa jorna e de um melhor futuro, excepto o meio de transporte. Depois de tudo combinado e prometido verbalmente, como indicado o ponto de encontro, partiram de madrugada num determinado dia. De tanto pedalarem, chegaram ao local combinado por volta do pôr-do-sol. Bem longe do local que lhes iria servir de alojamento por alguns dias, alguém os esperava para lhes indicar o «barracão».
Seguiram o caminho indicado, depois de realmente verem que o «importante senhor» era mesmo «dono de terra a perder de vista». Quando chegaram junto da velha adega, viram que ninguém os esperava. Com o portão encostado, entraram dentro da mesma. Apenas havia dois velhos lagares cheios de palha para gado, mal cheirosa e cheia de bolor de há tanto tempo lá estar; ao fundo, duas enormes pipas de vinho, assentes em dois velhos barrotes que mais pareciam aduelas pelo peso que suportavam e do passar dos anos.
Esperaram quatro dias por ordens que nunca vieram, como nunca ninguém se aproximou deles para dar quaisquer tipo de instruções. O mais astuto e a quem mais respeitavam, disse-lhes que «isto cheira a esturro! Fomos enganados». Esperaram mais outros tantos dias.
Só o Vento frio e seco assoprava por cima das telhas de canudo que os protegia para não sentirem nos seus velhos cobertores a gélida temperatura que durante as noites teimava entrar. O que tinham levado estava a chegar ao fim. Decidiram de comum acordo, regressar ao ponto de partida. Sentiram-se usados e abusados. Não bastava serem uns desgraçados quanto mais agora serem gozados?
Pasmaram-se pelo regresso inesperado, os que não foram, como todos aqueles que tinham ouvido falar, de quem foi na busca de melhores condições. Não bastava o que tinha acontecido quanto mais agora serem «gozados pelos iguais de pobreza». A humilhação maior foi: quando começaram a ouvir vozes que diziam: «Olha, outro que foi para a terra da pisa da lã!». Nunca mais foram os mesmos como nunca mais acreditaram em quem tudo lhes oferecia. Aprenderam que muitas vezes «vale mais pescar o pouco peixe no rio que passa na frente da nossa casa que ir para junto de rios que não se conhece».

A vida é feita de sonhos e ilusões




Por ANTÓNIO CENTEIO

Quando acordou já era dia e um lindo sol coloria tudo ao seu redor. Para Sandra, o problema era com atravessar a floresta. O silêncio da floresta intrigava-a como os perigos que existiam no seu interior. Mas sabia que uma pessoa sábia tenta resolver os problemas antes que eles surjam. Descobriu que a noite é apenas uma parte do dia. Foi então que iniciou o percurso que tinha que fazer. Acreditava que algo a acompanhava nos seus passos. Nunca se esquecia de todas as armas que o homem foi capaz de inventar, a mais terrível – e a mais poderosa – era a palavra. Quem era e o que fazia sabia, muito bem. Mas há coisas inevitáveis que temos que aceitá-las como são ou então descobrir o segredo em como contorná-las para que não se avolumem mais. Tinha uma enorme Fé. Ensinaram-lhe desde pequenina que precisamos de confiança e, a confiança chama-se Fé. A fé é um mergulho numa noite escura. Acabou por atravessar a pequena floresta que a separava do chamado mundo civilizado.
Desde pequenina a minha «aluna» demonstrou sempre que, história ou filosofia seria o destino da sua licenciatura (como adorava as estrelas e o seu encanto). Acabou por escolher a última. Dizia sempre que nos mistérios do azul recebia as mensagens daquilo que acabou por seguir. Sandra era um encanto. Rompia pelos pensamentos uma áurea de inteligência para no brilho dos olhos resplandecer algo de misterioso. Toda ela era uma argúcia da natureza (só eu, a sabia compreender). Bem cedo descobri  nesta aluna que a sua capacidade em acreditar nos sinais era algo fora do comum. Previa para ela um grande futuro – nunca me enganei. Sinto-me feliz pelo tempo que despendi com Sandra.
O nosso encontro acabou por ser sublime porque o encontro de duas almas gémeas é maravilhoso. Sandra, sabia – mais do que ninguém, compreender os sinais. Nos encontros que costumávamos ter no silêncio da cabana com os nossos mensageiros acabavam sempre na aproximação de dois corpos espirituais. A essência da beleza e da Alma do Mundo não nos deixava ir mais além. Era o segredo de duas pessoas que buscavam a sabedoria no meios dos sinais e das estrelas.
Muitas vezes com a sua cabeça apoiada nas minhas pernas lamentava que a sua maior mágoa interior era saber que neste mundo materialista as pessoas nem sempre entendem a nossa linguagem.
Como gostava de Sandra!
Nestes momentos éramos duas pessoas numa só. O outro mundo, só compreendia palavras como ambição, riqueza e sucesso. Mal sabia que o futuro lhe reservava uma grande surpresa. Nas tardes chuvosas e de trovoadas assustadoras eu costumava ouvir o seu pequenino coração chorar. Chorava, porque nas profundezas do seu ser era sensível. Sentia-se insignificante para acabar com o sofrimento dos mais carenciados. A dor dos outros entrava nas suas entranhas. Como compreendia o seu grande coração.
Sentia-se uma privilegiada por estar comigo e me ter encontrado. Adorava-me e considerava-me um mestre. As suas primeiras palavras foram que “o amor é uma ponte que permite passar do mundo visível para o invisível”. Disse-me que estas palavras mais não eram do que uma homenagem a um grande escritor brasileiro que com a sua pena e sabedoria lhe tinha tocado no fundo do “ coração”.
Respondi-lhe que é preciso termos confiança na capacidade que cada pessoa tem para se ensinar a si mesma.
Sandra encontrou o seu caminho. De tanto amar Yorhge – como sabia e podia – só podia receber confiança e segurança. A vida é feita de sonhos e ilusões. Passado pouco tempo casaram-se. Yorhge era um homem experiente e um pouco mais velho do que ela. Mas soube recompensar Sandra com paixão e amor.
A vida prega partidas. Yorhge era um homem ambicioso. Correu riscos e seguiu certos caminhos que lhe dariam no futuro tanta amargura.
O sonho diluía-se. Sentia que o amor caminhava para o abismo. A ganância de querer sempre mais e mais acabou com aquilo que sonhara. Ainda bem que não tivera filhos.
O seu futuro estava ameaçado.
Nos meus ombros, as suas lágrimas corriam, sentindo eu, que a amargura estava a entrar nas profundezas da sua alma. A minha alma sentia a dor da minha aluna. Estava a sofrer em mim aquilo que Sandra sentia. Éramos como duas almas gémeas, a dor de um, era a de outro
“Ajude-me a suportar aquilo que me consome” clamava! Como chorávamos os dois.
Eu semeei os meus sonhos no chão que agora pisas; pisa suavemente, porque estás a pisar os meus sonhos, disse-lhe.
Viajamos os dois para onde pudéssemos cheirar a maresia no mar e o gosto do sal na boca. Foi então que os seus olhos brilhantes sentiram um momento intenso. Atraída por outros olhos viu que as palavras de Francesco Alberoni correspondiam à verdade. Vacilou um momento mas o homem que estava na minha retaguarda era o amor da sua vida.
Vinda de Samora Correia encontrei-a em Lisboa nas proximidades de um grande centro comercial. Contou-me que tinha três filhos e viajava pelo mundo. “O mundo é como as estrelas, sempre em mutação” dizia-me ela. Afinal tinha aprendido alguma coisa comigo.
Acreditava na presença daquilo que sempre acreditou. A todo o momento pensava em mim. Recordava com nostalgia as noites que passávamos na sua casa.
Naquelas noites frias junto da lareira onde me pedia docemente “senta-te no sofá, porque só nele, com a companhia do calor das brasas, podes sentir o som das melodias que as cordas do meu violino tanto sensibilizam o teu coração. Para ti mestre, que tanto adoro, dedico-te as memórias do tempo”.
Como ela sabia executar “Lara’s Theme”. Tinha o “ dom” de me sensibilizar. Sabia o sentir do meu coração e aproveitava todas as oportunidades da vida para que estas demorassem muito tempo a voltar. Por tudo que lhe ensinei e pelo que fiz por ela, com os olhos fixos em mim, as suas lágrimas corriam pela sua face, cuja pele já demonstrava que o passar dos anos deixam as suas marcas. Mas a sua beleza feminina interior continuava sendo a mesma.
Mestre, como me chamava Sandra, dou-lhe como presente, ser o mestre de Petrus – seu filho predilecto, pela sua gratidão e pelo facto de existir como ter vindo ao meu encontro e ter esperado tanto tempo por ele.
 Leve-me consigo – disse ela. Ensine-me a caminhar pelo seu mundo. Viajámos os dois no tempo, no espaço. Sandra viu campos floridos e cidades que flutuavam em nuvens de luz. No campo de trigo, ela compreendeu que os símbolos sagrados estão num dos Pólos da Terra. Precisamos de encontrar o nosso caminho mas sem nunca termos medo de o atravessar.
Lembrar-me-ei de ti a vida inteira, e tu lembrar-te-ás de mim, como das coisas que teremos sempre porque não podemos possui-las.
É preciso ajudar a construir, é preciso ensinar as pessoas a ensinarem-se a si mesmas. É pena que não seja da tua idade. Teríamos sido um grande casal. Não me esqueças nunca!

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Lembro-me muito bem do primeiro dia que falei contigo


Continuas a ser linda
E eu continuo a gostar de ti

MAS SE TE AMEI...




UM DIA VOLTAREMOS A ENCONTRAR-NOS

Nem que seja no fim do mundo.
Está escrito nas estrelas.
Não podemos fugir um do outro e muito menos nos escondermos
Amámo-nos como só nós dois sabemos amar.
E quando nos encontrarmos,
Faremos amor até cairmos para o lado,
Aquele amor que tanto gostas.
Há dias que me apeteces.
Hoje é um deles.

Hoje tenho pensado em ti e nas lágrimas tuas que derramaste em cima de mim quando me declaraste o que sentias por mim.
Lembro-me do dia, pela tardinha,  que te dei o meu blusão para que o  guardasses  no teu cacifo para não o levar para a festa.
Era Outono.
Pela noitinha, quando o foste buscar, disseste-me:
“Guarda-o bem guardado porque tem uma lágrima minha”
Olhei para ti e beijei-te para de seguida beber as minhas lágrimas porque senti nas tuas palavras o quanto me amavas e quanto eu te amava.
O tempo quis que o nosso amor não continuasse.
Hoje quando fui ao guarda-vestidos buscar uma camisa reparei que que no fundo estava o blusão.
Tirei-o para ver o local onde estava a tua lágrima.
Ainda tem o teu perfume.
E tantos anos já passaram.
Como te amei.
Se te amei?...
Vou-te dizer agora um coisa que o mundo ainda não sabe:
Amei-te como nunca amei ninguém na minha vida.
Mesmo que o nosso amor tenha acabado vai já para algum tempo:
Amar-te-ei sempre
Foste o meu grande amor.

ESTOU MUITO TRISTE CONTIGO PORQUE ANDASTE A MENTIR-ME DURANTE ANOS SEGUIDOS



Tu que durante muito tempo me prometeste que querias viver comigo;
Tu que tanto me disseste que me amavas e que não me trocarias por ninguém, mesmo pelo teu marido;
Tu que me prometeste que deixarias tudo e todos para viver comigo;
Tu que na cama, quando te contorcias de prazer ou  gemias de satisfação gritavas “AMO-TE”;
Tu que quando acabavas de fazer amor comigo choravas de tanto prazer teres tido;
Tu que  tantas vezes  me disseste:
"O meu marido na cama trata-me como uma puta";
Tu que tanto me disseste que te ias divorciar para viver comigo;
Tu que me dizias:
“Logo que tenha dinheiro vou pedir o divórcio para quando vier viver contigo seja uma mulher livre”.
Tu que tanto mal disseste do teu marido;
Tu que sonhaste viver comigo e agora dizes “que mudaste de ideias” mesmo que a vida com o teu marido seja um inferno e que  te trate abaixo de cão já dizes que não queres viver comigo?
Tu que  tanto me dizias que ainda querias “correr mundo” comigo para conheceres aquilo que não conheces;
Tu que me prometeste que “um dia faremos amor a meio da  noite na nossa praia”;
Tu que me disseste tantas vezes que "ainda vamos ser felizes e recuperar os anos que perdemos".
Tu que querias   ir passar fins de semana comigo para São Martinho do Porto, a tua praia;
Tu que me dizias "Quando formos andar nas areias da nossa praia quero andar às tuas cavalitas";
Tanto sonhos e projectos que fizemos juntos para passar o último ciclo das nossas vidas juntos agora foram todos por “água abaixo”?
Tudo que disseste tantas vezes que me ias ensinar a dançar, quando vivesses comigo;
Afinal todos estes anos que fomos um do outro andaste-me a enganar dizendo uma coisa e pensando outra.
Tu, que sempre acreditei que me amasses de verdade, afinal andaste-me a enganar e  levaste estes anos todos a usar o  meu corpo para teu prazer.

ESTOU MUITO TRISTE CONTIGO!

Eu que te amei tanto e que sempre acreditei em ti afinal só me disseste uma verdade durante estes anos todos:

“ Já não te posso dar o filho, que tanto gostavas de ter por causa da idade  que tenho".

Memórias do Tempo



António Centeio

Na pequena localidade situada entre a serra e o rio, onde nasceu Anastácio, predomina a paisagem viçosa, serena e repousante com uma luxuriante vegetação que comporta uma flora diversificada. Local privilegiado que deixa desfrutar na imensidão do horizonte uma beleza estonteante.
O seu Solar – conhecido por “Solar do Gião” situa-se na localidade de “Carril” terra centrada no coração do Ribatejo em plena região vinícola. Tem mais ou menos sete hectares que aglomera: casa de habitação, jardins, quintais, pátios e uma pequena área rural onde existe uma mina de água, uma fonte, um tanque de rega e constituída por outra de prados e por uma mata de sobreiros, alguns de grande porte. Existem ainda magnólias.
Em volta do edifício habitacional, propriamente dito, longos canteiros de hortenses que embelezam a habitação, fazendo com que nas manhãs quentes, quando se abre a janela, se inale o aroma que das roxas flores vêm. Bem de frente do quarto de Anastácio um enorme e velho Carvalho.
Plantado que foi pelos antepassados, os seus ramos alongam-se como mão de gigante. Nas noites invernosas em que o Vento teima mostrar que é a força do mundo assusta tudo e todos. Nos dias em que o Sol volta ao baixio, os raios rompem os espaços vazios das folhas. De longe, pequenas fitas imaginárias de neve atravessam os caminhos livres até se reflectirem no interior do quarto de Anastácio.
São estes momentos em que a alegria penetra na alma de quem dentro dele vive ou: quando criança levava-o a pensar que um dia quando fosse crescido seria como os homens que conhecia ou ouvia falar. O destino barrou-lhe o caminho, ou os sonhos.
Numa tarde de Verão partiu na sua moto em direcção ao Sudoeste alentejano para assistir ao seu primeiro “Concerto de música”. Até os raios da motoreta brilhavam como as silhuetas mágicas do Sol quando perfurava o velho carvalho. Sentado, apreciava a beleza da planície alentejana.
No silêncio da própria calma, tudo parecia uma miragem. De vez em quando lá via algumas vacas alternando com cavalos e cabritos. Deslumbramentos que faziam com que nada lhe ficasse indiferente.
Anastácio sempre se deixou seduzir pelos efeitos das paisagens. Nunca se esqueceu do dia em que o pai o levou a um dos «largos mais bonitos do mundo» segundo ele. Na Praça do Geraldo, perto do pôr-do-sol, viu os raios de luz poisarem fugazmente no chão.
A viagem decorreu com alguma normalidade e paragens. De tempos a tempos anotava mentalmente os quilómetros que faltavam. Já era madrugada quando viu um vulto no meio da estrada, cambaleando ora para um lado ora para o outro. Um vulto maldito que fez com que tivesse um grave acidente. Não se sabe se era uma pessoa se uma coisa de “outro mundo”.
Resta a Anastácio passar o resto da sua vida sentado numa cadeira de rodas – tal foi o acidente – olhando para o velho carvalho que o amedrontava quando criança, como toda a família pelo barulho que fazia quando o Vento o tentava derrubar. Agora os galhos do arbusto de tanto assustar, fazem com que as noites pareçam fantasmas, que não existem, mas que passaram a haver. Apenas os raios solares se atrevem a deslumbrar quem na sua meninice passou momentos únicos e inesquecíveis. 
A velha árvore para mais amargurar quem não a viu nascer e muito menos ser plantada, teima em mandar para o cimo da terra as suas fortes raízes, rachando a terra que já nem peso têm.
Resta-lhe a memória, quando da infância, a parte do tronco madeireiro transformar-se em arco para formar a entrada do jardim numa cerca, ou a lembrança de: um mar salgado e alegre que se agitava contra os barcos, a que os nazarenos chamavam de “galeões” quando voltavam para terra carregados, cheios de peixe.
No futuro, os velhos ramos deixarão de se vergar sobre o peso das gotas da chuva, quando Anastácio meditava na grandeza da natureza.
A vida já lhe vai longe, ou tão perto, que vê permanentemente a linha que finaliza toda a corrida que fez – outra continuará ou terminará. Enquanto não chega ao fim, de tudo o que fez e teve, a vida continua a sorrir-lhe, talvez de uma forma ingrata e inesperada.
Aprendeu com as vicissitudes do infortúnio: - se necessário, há que olhar para as feridas aparentemente curadas e voltar a abri-las quando a dor já nem força tem para fazer doer.

Para a Enfermeira, um burro carregado de couves



Por: António Centeio

Januário homem que já carrega quase oito dezenas de anos continua a querer mostrar que não se verga ao tempo e às coisas. O que lhe interessa é o seu espírito jovem e a pujança que sente dentro de si como das “forças vindas de um sítio qualquer” que não lhe impedem de todos os dias fazer a “amanha da sua terra”.
Todos os dias, quando se levanta e o Sol ainda está do “lado de lá de Espanha” depois dos preparos matinais senta-se na sua velha mesa para comer a sua “côdea acompanhada de um bocado de chouriço” para de seguida partir na desengonçada carroça puxada pelo “Jericó” o nome do burro, cuja idade do dito desconhece, porquanto já o comprou como “um burro velho” a um cigano numa Feira de Gado que se costuma realizar ali para os lados de Vale de Santarém.
Paragem obrigatória se torna a visita matinal na “Tasca do Fausto” a fim de tomar o seu caneco de café e respectivo bagaço em duplicado que lhe retemperam as forças para o dia que ainda não viu nascer a bola de fogo, mas que dele muito vai exigir.
Quando chega à sua herdade, a que chama de “Terra Seca” começa a tratar da “amanha” e de tudo que esta lhe pede para que “amanhã nada lhe falte como aos intermediários que o visitam para negociar o que a terra vem dando, julgando alguns que enganam o amigo Januário pela sua avançada idade” quando na verdade o conhecimento que foi adquirindo ao longo das luas, lhe deram sabedoria para numa cantilena cheia de manhas conseguir dar a volta a quem com intenção quer-lhe passar a perna. Assim e desta forma, tem conseguido levar a sua a avante “sem enganar o parceiro, como: deixar-se enganar”.
Apenas, e confessa, que o seu único fraco, mesmo com a idade que já leva, são as mulheres. Estas ainda continuam a apoquentar-lhe a cabeça e quando vê alguma saia, então a sua cabeça fervilha de coisas que já não estão a seu alcance.
Homem de uma enorme robustez física com um olhar profundo que “até queima por dentro quem para eles olha” tal é a nitidez do azul. Quanto a médicos apenas afirmava “não querer nada com eles” e no que tocava a doenças “nunca as teve”. Mas se as tivesse tido simplesmente encontraria a cura na “apanha das erva” que a sua avó lhe ensinou “servirem para curar todos os males, até os da língua”.

 Nunca recusou ajudar quem quer que fosse como contribui com o que esteja ao seu alcance, desde que possa extrair no que plantou ou a “Terra Seca” por razões desconhecidas lhe coloque na frente dos olhos aquilo que outrém possa usufruir.
Tudo isto até ao dia em que a sua calvície não resistindo ao calor da tarde cedeu aos infortúnios daquilo que a idade não perdoa. Deu-lhe um fanico qualquer que tombou de imediato para o cimo do canteiro de salsa que andava a regar. Valeu-lhe a visita inesperada de uma sua protegida, que de tempos a tempos o visitava para o consolar de algo que gostava mas não tinha e ao mesmo tempo lhe transmitir as últimas novidades do burgo já que o amigo Januário não era homens de mexericos ou de andar “sem nada fazer por locais onde se diz mal de todos e se gasta dinheiro sem necessidade”.
Quando não havia bisbilhotices a idosa inventava-as. Apenas não dizia mal de si própria, porque lhe ficava mal ou o ouvinte não acreditava no que acabava de saber. Mulher astuta que sabia “tirar os ovos debaixo da galinha sem ela dar por isso” pouco se lhe importando se: tivesse ou não de deitar-se debaixo de qualquer um, desde que, pudesse “levar para sua casa aquilo que não tinha”.
Aos gritos veio à aldeia pedir socorro que num ápice, alguém depois de ouvir o sucedido, pediu ajuda aos bombeiros. Em pouco minutos Januário estava no hospital. Neste, se manteve uma dúzia de dias sempre assistido por uma linda e simpática enfermeira.
Dada autorização para sair, pelo seu próprio meio, por via de estar curado, criou-se-lhe o problema de “como agradecer a gentileza a quem o tão bem tratou a cuidou”. Homem desconhecedor das modernices que fazem parte do mundo em que vive como de outras novidade e ignorante que continua a ser, daquilo a que alguns chamam de “boas-maneiras” já que os seus nunca lhe ensinaram “que tal coisa quer dizer”. Também não sabia que uma simples pequena lembrança resolveria o enguiço. Para agravar as regras já que no amanho da terra nem sempre se aprende aquilo que se deveria aprender na escola, na sua voz grosseirona, mas sincera, vai daí, perguntou a quem tanto o importunava com cuidados e outros mimos ”que quer como gratificação pelo que me fez?”
Da mesma, teve como resposta: “Nada! Apenas fiz a minha obrigação como faço para com todos os doentes”. De seguida, recebeu como sinal de carinho e respeito um beijo na cara, coisa que não estava nos pensamentos do madrugador.
Não ficando satisfeito com a recusa mas sentindo-se na obrigação de recompensar, agora mais do que nunca porque a especialista até lhe “deu um miminho na cara” foi para casa matutando na forma de contornar a coisa. Não encontrou solução ao problema nem soube descobrir outras formas. Homem habituado aos imprevistos e às partidas do tempo, ouviu, vindo das “profundezas da terra” a solução.
Poucos dias depois, apresentou-se no Hospital pedindo a presença da dita especialista. Depois de informada de quem a chamava do exterior, compareceu ao apelo. Perguntando-lhe o que desejava, obteve como resposta “ minha linda e bondosa enfermeira vá ali à rua e veja com os seus próprios olhos o que lhe trago como agradecimento pelo que me fez e como me tratou”. Em cima de “Jericó” estava um enorme carregamento de couves.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

GOSTO DOS DIAS EM QUE SINTO A MARESIA DO MAR NA MINHA CARA




Gosto do vento e do mar.
Pronto!
Gosto de sentir na minha cara aquela humidade e aquele cheiro da maresia do mar.
Quando estou triste ou desanimado com a vida (também tenho destes dias) gosto de ir até junto do meu mar.
A maresia do mar limpa a minha alma e o Vento acalma-me.
Sempre foi assim!
O mar recarrega o  meu EU.
Também gosto de passear pelas ruas e ruelas da minha praia e sentir no ar a maresia para depois lamber os meus lábios com o salgado da humidade.
Quando tenho frio agasalho-me com o meu cachecol  ou abraço-me a quem me acompanha.

A ISADORA ZANGOU-SE COMIGO POR UNS DIAS


Há bocado fui  ao supermercado fazer compras.
Quem havia de encontrar?
A Isadora.
Ui…
O meu coração saltou.
A Isadora é alguém por quem nutro um grande amor.
É uma pessoa especial na minha vida.
Nem eu nem ela esperávamos nos encontrar.
O coração dela sorriu.
Apeteceu-me beijá-la para que o mundo soubesse que não somos dois estranhos.
Enquanto a Isadora explicava à empregada o que queria eu olhava para o seu cabelo grisalho.
Quando a empregada nos ouviu a falar olhou-nos  e disse-nos:



"Olhem a distância..." 



Tinha razão!

Estávamos quase em cima um do outro.
Só que a funcionária não sabe que o que mais gostamos é de estar em cima um do outro



A Isadora tem um cabelo lindo que tanto gosto de acariciar.

Entre a Isadora e eu existe um grande amor e uma profunda paixão.
Somos uma espécie de “dois em um”.
Mas a Isadora “zangou-se ” comigo “por uns dias”.
Um dia destes estamos caídos nos braços um do outro.
Senti pelos seus olhos o quanto ficou feliz de me ver.
Eu também.
Continuo a amar-te Isadora

FEZ ESTA SEMANA TRÊS ANOS QUE FIZEMOS AMOR PELA PRIMEIRA VEZ



Pela primeira vez senti o teu corpo completamente nu e entrelaçado no meu.
Sorrimos um para o outro envergonhados por nos sentirmos despidos.
A paixão nascia  entre nós.
Lembro-me do teu à vontade.
Lembro-me do cheiro do teu perfume a entrar em mim.
Por mim aquela tarde nunca teria fim.
Os teus lábios mordiscavam os meus.
Os teus braços apertavam-me.
Fomo-nos envolvendo cada vez mais.
Aprendemos a desejar-nos cada vez mais.
Mesmo que agora não queiras estar comigo
Amo-te como no primeiro dia que fiz amor contigo
Amo-te como no primeiro dia em que me deitei contigo na nossa cama.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

UM DIA APAIXONEI-ME AQUI


Em tempos andei nesta linda cidade em busca de um local onde pudesse encontrar  a dança flamenca de rua.
Quem encontrei para me indicar o que procurava?
A Vera!
Nos oito dias que lá estivemos a paixão nasceu entre nós  dois.
Foi um amor lindo que durou uma dezena de anos.
Nem ela me pediu nada em troca
Nem eu quis nada em troca dela.
Apenas o amor que existia entre nós.
Foi lindo enquanto durou.
Mas mais lindo foi o nosso encontro hoje de manhã na nossa praia.
Contei-lhe que tenho uma amiga, a "Pinquenta", que adora também a praia que agora é dos dois.
Disse-lhe que a "Pinquenta" é uma gulosa por gelados.
Riu-se que nem uma desalmada.
Um dia destes juntamo-nos os três.
Vai ser uma paródia.



UM DIA DANÇAREI CONTIGO NAS AREIAS DA MINHA PRAIA



Um dia quando a Lua cheia estiver a beijar o  meu mar dançarei contigo nas areias da minha praia.
Como  fundo  musical será a "Lara" para nos sentirmos bem agarradinhos um ao outro.
Tenho saudades de sentir quem amo bem juntinho de mim para lhe sentir o perfume, aquele perfume que me enlouquece quando sinto. 




segunda-feira, 22 de junho de 2020

AMA-ME ATÉ À LOUCURA


Para que sejamos sempre um do outro,
Para que possamos respirar um no outro.
Para que estejamos sempre um no outro.
AMO-TE
« A foto é da V.M.»

VEM DAÍ...


Vem pelo escurecer para que ninguém te veja.
Vem para adormecermos juntos.
E amanhã dar-te-ei um beijo de bom dia
Mas antes do Sol nascer, vou-te dizer  junto do teu ouvido:
“AMO-TE”



QUERO-TE COMIGO



Para ouvir ao meu ouvido tu a dizeres  baixinho:
 AMO-TE.

domingo, 21 de junho de 2020

OS TEUS CABELOS SEMPRE ME SEDUZIRAM


Já somos amigos vai para dezenas de anos.
Sempre passamos férias juntos.
Já nos amamos.
Já viajamos juntos.
Passamos duas semanas em Alexandria,
Duas semanas que foram a realização dos nossos sonhos.
Já cavalgamos no mesmo cavalo,
Tanto que o "Rivoli" já conhece  as "dunas" da Praia do Norte.
Mas é nas areias do rio que banha a terra mais linda do mundo que o "Rivoli" mais gosta de cavalgar.
O Tejo é o nosso rio.
Foi nele que nos apaixonamos.
Hoje levamos a tarde a cavalgar nas areias do nosso rio
A Sophia quer que vá sentado sempre  atrás do seu corpo.
Adoro sentir o seu cabelo na minha cara.
O seu longo e macio  cabelo sempre me seduziu.
A Sophia sabe que  adoro lamber-lhe o pescoço para depois sentir o "molhado" na minha boca.
Quando lhe beijo o pescoço sinto o seu corpo estremecer.
O "Rivoli" também.
Amo-te Sophia
O teu corpo também
(A foto é da Sophia)



Fabiana encontrou o filho desejado




Por: António Centeio


Fabiana foi sempre uma mulher determinada. Nunca deixou de acreditar que não morreria enquanto os seus sonhos vivessem como sempre soube que um dia quando tivesse próxima de ser mãe estaria preparada na hora do parto para receber o maior privilégio que a vida dá às mulheres, mesmo que nesse sublime momento a vida e a morte estejam sempre juntas
Nunca teve medo de enfrentar os desafios que a vida coloca na frente das pessoas, sejam ou não uma prova e um desafio ao ser humano para mostrar se é ou não capaz de contornar os obstáculos.
Fabiana nunca teve medo de nada. Sempre teve uma coragem que até ela própria se admirava. Não tivesse sido criada nos confins do mundo e no cume de uma serra onde o frio seco entra nas entranhas que até quase gela o coração. Às vezes o Vento assustava-a para que não dormisse demais e estivesse sempre desperta.
A dor e a amargura fizeram-lhe sempre companhia, levando-a com que muitas vezes, debaixo do banco em que se sentava as suas lágrimas corressem numa direcção que nem ela própria sabia onde terminava.
De tanto ir à cidade onde a aragem era sempre seca e fria, ficou a saber que entre Norte e Sul havia em determinada altura das estações que a terra una que fazia parte do seu mundo estava cheia de contrastes. Prometeu a si mesma, logo que possível, mais dia, menos dia desceria até encontrar um sítio onde pudesse completar os ciclos da vida.
Parou nas proximidades do Tejo já que as recomendações indicavam ser aqui o seu porto seguro como; onde estava alguém que a ampararia enquanto não conhecesse a terra que iria pisar tantas vezes no futuro.
Mal entrou na localidade, viu lá no alto o castelo. Seria a primeira coisa que queria conhecer quando visitasse a cidade. Assim foi.
Quando o visitou – talvez um sinal do destino – encontrou aquele que viria a ser a sua alma gémea, não sabendo ambos no momento de encontro que iriam trabalhar no mesmo local como iriam ser colegas de profissão – ironias do desconhecido.
Da grande amizade nasceu um grande amor que durante alguns anos fez com que se conhecessem profundamente para depois de realizado o acto solene desejassem o maior sonho de Fabiana: ser MÃE.
Começou aqui, um dos ciclos mais difíceis da sua vida. Por mais tentativas que fizesse não conseguia ser mãe como nunca conseguiu descobrir as causas de tal infortúnio. «Esterilidade» alguém lhe disse. Desistiu, como também seu marido, que um dia lhe prometeu meia dúzia de filhos para todos juntos à mesa galhofarem e serem todo um só. A família estava acima de tudo.
 No interior de sua casa, algures num dos muitos caminhos que levam outro caminho às “Lapas” tudo era dor e amargura. Nas noites frias mas húmidas, sentados os dois, depois de um dia de labuta o silêncio imperava. Até as suas gargantas se tornavam secas de tão pouco falarem para apenas ouvirem o uivar do Vento forte das noites geladas.
Levavam horas e horas os dois sentados em dois singelos bancos de madeira mexendo com uma tenaz as brasas da sua lareira para depois iluminar a chaminé. Apenas falavam em pensamento ouvindo os estalidos da madeira que faiscava ao despregar-se as lascas ou abraçavam-se em silêncio para quando os corações chorassem as lágrimas caíssem nos seus ombros.
Tantas e tantas vezes que o gélido tempo não os deixava sair junto das chamas para que as suas refeições fossem apenas pobres fatias de pão banhadas com um fininho fio de azeite que uma pobre alma sua vizinha, mais apoquentada pela dor que a necessidade dos dois lhes oferecia quando ia ao lagar de azeite.
Não que vivessem miseravelmente mas aquela dor de não poder amar algo vindo das suas entranhas sufocava-a interiormente. A comida enrolava-se e fazia um nó na garganta. Só o azeite fazia escorregar o pão amargo de tão dorido ser como a dor que tinha dentro dela.
Quantas vezes não sentiam a cair nos seus dobrados joelhos, lágrimas dolorosa por estarem a pensar a mesma coisa sem dizerem um ao outro aquilo em que pensavam? Quantas vezes não olhavam para a longa e alta parede da chaminé pintada de branco com uma barra amarela para verem o berço que lá estava pendurado esperando que alguém no seu interior se deitasse?
Nas noites de luar, às vezes vinham, sem saber como, abeirarem-se da pequenina janela voltada para o pátio olhando para a laranjeira que lá. Até parecia que tinha sido plantada de propósito há muitos anos com troncos fortes e arqueados esperando por duas grossas e seguras cordas para servir de baloiço a alguém levezinho como uma arvela. Por baixo da mesma um pequeno rebaixamento redondo fazia a terra escura com uma maciez que a tornava balofa. Se alguém caísse em cima dela não se magoaria mas talvez se sujasse.
Os dois só davam sinal de vida quando umas agoirentas corujas vindas das catacumbas das “Lapas” sobrevoavam o telhado a caminho do cemitério e num cantar medonho e arrepiante os fazia encolher quando ecoavam sons aziagos. A noite ficava adormecida nas profundezas do silêncio porque tal ave diziam os mais antigos, simbolizava o mal, a desgraça ou o caminho que ligava à morte.
Bendita a manhã de uma terça-feira em que foi ao mercado semanal. Na sua frente caminhava uma pobre mãe que mais parecia uma galinha com a sua ninhada de pintainhos. Toda desfraldada com uns cabelos que não sentiam, sete pequeninos filhos descalços magros e escanzelados seguiam o seu encalçe para ouvirem continuamente da sua protectora pragas amaldiçoadas mais parecendo que lhe tinham pedido para vir a este mundo.
«Enquanto eu tanto desejo uma criança esta pobre mãe tem-nos demais. Não há justiça neste mundo» pensava Fabiana para logo ouvir de seguida da fria mãe: «não haverá neste mundo ninguém que queira tomar conta de vocês?»
Para quem sempre acreditou que nunca morreria enquanto os seus sonhos vivessem um sonho dos seus sonhos realizou-se. Foi tudo apenas uma questão de tempo para a adopção.
Hoje, uma das crianças é a razão da felicidade do casal que em tempos até pensava que a humidade que corria pela parede da chaminé por causa do calor do lume eram lágrimas de alguém que lá em cima chorava por ver tanta tristeza.

Em busca do tesouro





                                                                  António Centeio


Amélia era uma mulher vistosa até ao dia que num acidente de automóvel ficou com mazelas deixando-lhe deformações físicas. Nunca mais foi a mesma. A sua beleza exterior deixou de ter aquele encanto que tanto se orgulhava. Criou em si própria complexos que quando se via ao espelho ficava nervosa. O médico dizia-lhe para consolo do seu espirito «são complexos». Não estava longe da verdade. Continua sendo a mulher linda e encantadora que conheci. O tempo é como uma borracha, tudo apaga. Hoje, é uma pessoa comum não ligando quando a olham. Sempre foi uma mulher empreendedora.
Mesmo sendo impossível deter o rio da vida e sem um centavo no bolso, mas com uma fé infinita, Amélia, continua a ser aquela mulher que sempre admirei tanto em corpo como em alma. Abriu uma clínica médica onde existem as mais variadas especialidades.
Antes do acidente, costumava dizer que existe uma linguagem universal que está para além das palavras. Se nós aprendermos a decifrá-la conseguiremos compreender o mundo. «Tudo é uma coisa só» dizia.
Sempre disse que nunca se casaria. Entende o casamento como um contrato burocrático com um pouco de hipocrisia à mistura. Mas o seu companheiro é algo que Amélia muito preserva. Como vontade é coisa que não lhe falta, busca algo que deseja e acredita. Agora dedica-se também à filosofia com a companhia dos amigos mais chegados. São noites que perdemos mas que justificam o tempo gasto. Usamos para discussão «O Mundo de Sofia».
Cita com frequência Jostein Gaarder. A melhor maneira de nos iniciarmos na filosofia é colocar perguntas filosóficas. Como se formou o mundo? Haverá uma vontade ou um sentido por detrás daquilo que acontece? Haverá vida depois da morte? Como podemos encontrar resposta para estas perguntas? E, acima de tudo, como deveríamos viver?
«Estas perguntas foram colocadas desde sempre pelos homens. Não conhecemos nenhuma cultura que não tenha perguntado quem são os homens e de onde vem o mundo. As perguntas filosóficas que podemos colocar são muitas mais» para continuar a argumentar que a «história oferece-nos muitas respostas diferentes. Mesmo hoje, cada um deve encontrar as suas respostas para estas perguntas. Não podemos saber se Deus existe ou se há vida depois da morte, consultando a enciclopédia. A enciclopédia não nos diz como devemos viver. Mas ler o que outros homens pensaram pode no entanto ser uma ajuda, se quisermos formar a nossa própria concepção da vida e do mundo». Continuava a citar «A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos»
Às vezes temos a impressão que há uma misteriosa energia que nos une ao mesmo tema. Alturas existem que até estranhamos os nossos próprios instintos. Até Dudu a mascote de Amélia, que nos faz companhia, dá sinais para estarmos preparados para as supresas da vida.
Um dos nossos amigos costuma filosofar «cada homem deve procurar o seu tesouro para que o encontre. Os sinais farão o resto».
Numa das muitas noites dos nossos serões, Amélia disse-nos «numa altura da nossa vida tudo é claro, tudo é possível, não temos medo de sonhar e desejarmos aquilo que gostaríamos de realizar. Olhem para mim: 1.72 de altura, uma vida de sofrimento, de dor, sem filhos mas vivendo com um homem que me ama e amigos puros como vocês, onde alguns ainda sentem uma paixão por mim, não me devo sentir feliz?»
Sabia que algo lhe ia acontecer no dia que ia buscar o seu diploma a Lisboa. Desconfiou da emoção que sentiu quando recebeu na entrega do papel que lhe daria o resultado do esforço durante quase sete anos, mas não compreendeu o que sentia. Quando próximo de Aveiras viu vir um veículo pesado contra o seu carro é que se lembrou daquilo que não sabia mas que tinha pressentido.