«Estes textos são apenas ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.»

domingo, 19 de maio de 2019

DA MINHA RUA...



Na rua em que nasci, a mais bonita da minha terra, havia muitas crianças.
Quase todas da mesma idade.
Quase todas nascidas na mesma rua,
Outras, vieram para aqui residir, pelas mais diversas razões.
Éramos todos amigos e companheiros na "ida e regresso" da escola.
Lembro-me do Amilcar (Presúncia), do Zé Claudino, do Jacinto (Carioca), do António Manuel (Magalhães),  do Tozé (filho do Figueira Padeiro), do Manuel João, da Suzete (Pedrinha), da Ilda (Caetano) , da Noémia (Pochim), da Marilia (Sardinheiro) e do Jorge Marmelo.
De todos estes, um era especial porque era o mais velho e o "maior" (em altura) a quem todos tínhamos por obrigação "obedecer"  porque sabia mais do que todos nós juntos.

Era o "JORGE MARMELO".

Era o único que conseguia levar-nos todos, os da minha rua, nas tardes de Verão para junto do 'tanque" que havia no "Caliptal" (localizava-se mais ou menos onde hoje está o Centro de Saúde).
Sentávamo-nos todos nos "montes" de terra amarela para ouvir o "Marmelo".
Em pé, com o seu "corpo de homem"   e de  uma calma especial a falar, relatava-nos as suas peripécias do dia-a-dia.
"...Ontem, depois de sairmos da escola, o Zè (Claudino) convidou-me para ir à casa dele lanchar e também para brincar.
Se vissem...
Em cima da mesa...marmelada...manteiga... leite..."
Nós, oriundos de outros planetas...olhávamos para o "Marmelo" como se...só ele tivesse direito ao melhor dos melhores lanches.
"Leva-nos contigo...
É pá...não pode ser...
o Zé tem peças de Lego e..."
Quis o destino que  viesse morar para uma casa que faz "extrema" com a casa em que o Marmelo se fez homem.
Hoje sentei-me na escada que me leva ao terraço do meu casario.
Olhei então para a "casa" onde viveu o meu amigo Jorge.
Onde tantas vezes o fui chamar.
Uma casa que marcava respeito porque o pai do 'Marmelo' não era um homem qualquer mas sim um "homenzarrão".
Como o "Jorge".
O Jorge era um verdadeiro "amigalhaço" e eu sentia-me vaidoso por tê-lo como amigo.
Lembro-me do seu penteado (para trás) e do seu sorriso mas acima de tudo da sua voz calma onde não era preciso levantar o tom para se dar ao respeito ou ser respeitado.
O Marmelo tinha um riso especial, uma forma especial de se rir e uma calma que nos levava a admirá-lo e a respeitá-lo.
Quando desci da escadaria, até me arrepiei..
"Anda Tonho...vamos para a escola".
Um dia vamo-nos encontrar no caminho das estrelas.

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