Na casa do lado direito, na segunda porta (a seguir ao portão) era uma taberna, a do Sr. Figueiredo.
O Sr. Figueiredo, era, em termos físicos, um “homemzarrão” que gostava muito de mim porquanto conhecia-me desde que passei a ser “ gente” e porque era amigo do meu pai.
Quando criança, familiar meu mandava-me à “Taberna do Figueiredo” comprar aquilo que ele melhor fazia e vendia, o seu VINHO.
Quando me via levava-me sempre para a sua adega.
Contava-me obrigatoriamente uma história (verdadeira) de alguém da minha terra.
Ouvia- o atentamente porque adorava ouvir o que me contava,
Fazia-o com o seu “vozeirão” e no fim dizia sempre:
“Devemos ajudar quem mais precisa…”
O Sr. Figueiredo era um homem com o coração do tamanho do mundo.
Numa tarde de Verão entrou pela adega dentro o ‘Macarrão’.
“ Figueiredo não tenho dinheiro mas apetece-me tanto um copinho do teu tintinho.”
O Figueiredo deu-lhe o que pediu.
De seguida foi ao balcão do estabelecimento buscar uma garrafa da gasosa vazia.
Quando ficamos os dois disse-me:
Quando me vinha embora trazia-me sempre até ao portão abraçado com um dos seus longos braços.
Na despedida dizia com os olhos bem fixos nos meus:
“Tonho o teu pai era muito meu amigo.
Uma pena ter morrido tão cedo…”
Uma vez vi-lhe cair uma lágrima.
Eu, uma criança de sete anos, com o garrafão numa das minhas mãos, fazia o curto percurso, na altura parecia-me longo, que ligava a taberna à minha casa a pensar nas palavras do Sr. Figueiredo.
O Senhor Figueiredo era um grande homem e eu tinha-lhe muito respeito.
Hoje, quando pessoa amiga me fez chegar esta foto e vi a tal porta recordei-me do homem que tinha um dos melhores vinhos de Alpiarça.
Para ti que nascestes nesta rua e para que outros saibam um pouco da nossa terra, a terra que tanto gostas.
«acMMXXII»