NÃO TENHO VERGONHA
De vez em quando, gosto de ir até ao meu céu.
Sento-me numa nuvem e o meu deus vem ter comigo.
Normalmente, subo até lá porque quero chorar sem que ninguém me veja.
Não tenho vergonha.
Tenho apenas vontade de fazê-lo sozinho.
O meu deus não conta.
Sou eu em tamanho grande.
A sua mão fica pousada sobre o meu ombro enquanto choro.
Só isso.
Não diz nada, a não ser que lhe pergunte alguma coisa ou olhe na sua direcção.
Por vezes, o meu pai e a minha mãe juntam-se a nós e choramos os quatro sem falar coisa alguma.
O choro é a nossa linguagem.
Se for para chorar, que seja com eles, porque o regresso fica sempre mais alegre depois de chorar no meu céu.
«acMMXXI»
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