«Estes textos são apenas ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.»

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

A verdade é que nos reconhecemos sem nos conhecermos

 


 Traz uma garrafa de vinho tinto, dois copos e vem ter comigo. Toca na campainha de baixo apenas duas vezes para que saiba que és tu e possa abrir-te a porta sem fazer perguntas. Sobe as escadas sem fazer ruído, porque não me apetece que os vizinhos saibam da tua vinda. Não tenho nada a esconder, mas prezo muito a minha privacidade. Não precisas de bater à porta de cima, porque já estará aberta para ti. Desculpa não te receber, mas estou a jogar as almofadas e as mantas no chão e a colocar no gira-discos um dos teus discos preferidos. Quando entrares na sala, vou receber-te com um abraço e beijar-te o pescoço por baixo do teu lenço libanês. Adoro esse teu cheiro a roupa lavada e água-de-colónia francesa. Sem te aperceberes, vou tirar-te a garrafa das mãos, abri-la num ápice e convidar-te a brindar ao nosso amor e à nossa vida. Não te conheço há muito, nem tu a mim, mas tudo aquilo que reconhecemos um no outro sabemos que não começa nesta vida. A verdade é que nos reconhecemos sem nos conhecermos, sentimo-nos sem antes nos termos alguma vez sentido, encontrámo-nos num encontro feito mais em jeito de reencontro onde tudo é coisa de alma. Coisas que nenhum de nós consegue explicar, mas apenas aceitar e viver. Não sei até onde vamos ou aonde seremos levados os dois por esta espécie de deslumbramento, mas também não me importo. Aquilo que sei é que há luz no nosso caminho.

«JMT»

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