«Estes textos são apenas ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.»

sexta-feira, 19 de junho de 2020

JÁ VAI PARA MUITO TEMPO QUE A MINHA NAMORADA ESTÁ ZANGADA COMIGO


Já faz tempo que a minha namorada se zangou comigo.
Zangou-se e pronto.
Quando da despedida disse-lhe que estava muito enganada se «pensava que era a única que queria namorar comigo».
Claro que quero e preciso de uma namorada.
Não só para namorar mas para vivermos juntos.
Afinal não posso passar sem amor.

Hoje fui ver o meu rio.
Fui para sentir o cheiro do meu rio e sentar-me em cima das suas areias.
Gosto de olhar para o outro lado do meu rio.
Foi lá que nasceu quem me deu vida.
As minhas origens são da outra banda.
Na outra banda está bem escarrapachado numa placa as origens da minha origem:
“Casal Centeio”
O meu orgulho e a minha vaidade.
Às vezes vou até lá para sentir o cheiro de quem ali nasceu e tanto me amou.

Quando o Sol começou a aquecer e o vento  trouxe o cheiro da maracha levantei-me para apanhar a sombra de um salgueiro.
Um salgueiro a quem  faço companhia quando para aqui vou.
Conhecemo-nos um ao outro e temos quase a mesma idade.
Mal me sentei comecei a ouvir  “gemidos” de alguém que por ali estava.
Levantei-me e fui ver de onde vinha tal aflição.
Encolhidinha  e escondida no meio do canavial estava quem tanto dizia amar-me.
Puxei-a pelo braço e abracei-a.
Quando sentiu os meus braços a apertarem o seu frágil corpo junto do meu beijou-me como se nunca me tivesse beijado.
Trouxe-a para onde eu estava.
“Porque me levas para debaixo do salgueiro?”
Para falarmos.
Falamos e falamos…
Metemos os ‘pontos nos iis’.
Disse-me, entre outras coisas, que o que “aconteceu foi causado pela situação em que se encontra por causa dos vários problemas familiares  que tem tido nos últimos meses por causa do maldito Corona..."
Pediu-me desculpa pelo que aconteceu e prometeu-me que o “nosso namoro vai continuar como dantes…”
Trouxe-a para Alpiarça no meu carro.
Tinha ido a pé,  logo pela manhã, para junto do Tejo, porque alguém lhe disse que eu  “ia para lá com a minha nova namorada”.
Queria ver com os seus próprios olhos se era verdade.
Quando chegamos à minha casa, que um dia dela será,
Disse-me baixinho:
“Vamos para a cama fazer amor que já tenho saudades de te sentir em mim…”

Sem comentários:

Enviar um comentário