Hoje pela manhãzinha a Luísa telefonou-me.
"Logo por volta das três estou ai.
Tenho saudades de conversar contigo.."
A Luísa é uma amiga especial.
Quanto diz que quer falar comigo é para saber alguma coisa, daquelas que ninguém lhe diz, pela simples razão, porque não sabem.
Então socorre-se de mim porque pensa que eu sei tudo aquilo que quer saber.
Quando vêm conversar comigo para saber o que não sabe, estou sempre de pé atrás pela simples razão que nunca dá "ponto sem nó".
Eram três horas quando me bateu à porta.
Não quis entrar.
Apenas me disse:
"Entra no carro que vamos ao Patacão.
Quero passear de mão dada contigo pelas areias do nosso rio.."
A Luísa sabe, como poucas pessoas sabem, o quanto gosto de andar pelas marachas do meu rio ou de me sentar na areia a olhar para o lado de lá.
"Do lado de lá" estão as minhas raízes paternas.
Às vezes sinto-as a olhar para mim.
Momentos que me deixam emocionados.
Com a minha mão entrelaçada na da Luísa percorremos quase o "Patacão" de ponta a ponta.
Estávamos os dois cansados.
Sentei-me na areia.
A Luísa deitou-se na areia e no meio das minhas pernas.
Pediu-me:
"Acaricia-me os meus cabelos porque hoje quero mimos teus."
Assim fiz.
A Luísa é uma mulher que admiro.
Tem sofrido muito.
Às vezes até penso que a Vida lhe passou a perna para fazê-la sofrer até não poder mais.
Mas continua a ser uma grande lutadora e tem conseguido contornar os obstáculos que se lhe apresentam pela frente.
Quando entendi que tinha chegado o momento, perguntei-lhe:
"Diz lá o que queres saber que está a escurecer e a ficar fresco?"
Levantou-se e sentou-se de frente para mim.
Olhos nos olhos perguntou-me:
"De quem são aqueles olhos com que costumas ilustrar os teus textos?"
Tive que me rir.
Este lado ciumento da Luísa é terrível.
Disse-lhe:
"Não a conheces mas são de uma amiga minha.
Uma amiga especial, da qual tenho as melhores recordações e que me amou como tu nunca me soubeste amar".
Olhou muito séria para mim e:
"Mas onde vive e quem é?"
Com a Luísa não há meios termos, tive que lhe dizer:
"A foto (dos olhos) é de um grande amor que tive. De um amor que tem os olhos mais lindos do mundo. Quando me apaixonei por ela, não foi por ela mas sim pelos seus olhos porque conseguia ler-lhe nos olhos aquilo que só quem está apaixonado sabe ler.
Não fiques desconfiada ou com ciumes porque não está próximo de nós".
"Onde está?"
Meu Deus...
"És chata e..." disse-lhe.
Para não me apoquentares mais e dares-me alguma paz como acabares com esses ciumes fica sabendo que "os olhos que ilustram os meus textos estão neste momento no Egipto e vão lá estar nos próximos anos.
Estás esclarecida?"
Disse que sim mas não acredito porque a conheço muito bem, por dentro e por fora.
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