COMO TE AMAVA MINHA "ZINGARELAZINHA"
Foi no “Ascensor” que conheci a “Zingarela”.
Fiquei encantado pelos seus olhos quando se dirigiu a mim
no “elevador” da minha praia.
Sentou-se a meu lado e disse-me:
“Mostra-me a palma da tua mão”.
Rí-me pelo “descaramento”.
Dei-lhe a mão.
“Não é essa…é a esquerda..”
Mordeu os lábios com os seus dentes.
“Estás de férias e vais ter um romance que nunca mais
vais esquecer…”
Noite quente e um calor abrasador.
Assistia eu aos dançares do Rancho Folclórico Ta-Mar
quando de repente alguém entrelaçou um braço no meu.
Que perfume….
Que cabelos...
Uns olhos verdes brilhavam por causa da luz de um dos candeeiros
que iluminava a avenida.
“Anda comigo…”
Nem tive tempo de responder.
Puxou-me e levou-me para o seu carro.
Não tive tempo de pensar ou de lhe dizer alguma coisa.
Foi tudo rápido demais.
Arrancou e fomos directos para o cimo da minha praia.
Levou-me à igreja e na frente da Nossa Senhora da Nazaré
fez-me prometer que ia passar o resto das férias com ela.
Olhei para ela...
Os seus olhos queimavam-me por dentro e…
“Promete…promete…”
Que se lixe…afinal estou de férias.
“Prometo mas…”
“Cala-te porque a promessa está feita e a SENHORA DO
SITIO foi testemunha…”
Levou-me para a sua casa que se situava numa ruela estreita
como estreitas são as ruelas da minha praia.
Seria ali que passaria o resto das minhas férias e mais
alguns anos.
De “cigana” não tinha nada.
Vestia-se de uma forma excêntrica.
Cabelos longos mas bem tratados;
Gostava que os seus cabelos tivessem a forma de ‘cabelos
rebeldes’;
Gostava de usar vestidos compridos e leves;
Bem decotados;
Gostava de perfumar-se com os melhores perfumes arábes;
De uma cultura acima da média;
Apaixonei-me pela minha “Zingarela”.
Ensinou-me a amar e a fazer amor.
Da nossa paixão nasceu a nossa filha.
A nossa “Helena” era linda como a mãe.
Quando tinha três anos ficamos sem ela.
Partidas do destino ou da vida ingrata que tirou o fruto
de um grande amor que tanto se amava.
Nunca mais a minha Zingarela foi a zingarela que era.
Numa tarde cinzenta convidou-me para “irmos lá acima” no
elevador.
Vestiu o seu melhor vestido e usou as melhores jóias.
Perfumou-se com o perfume que eu tanto gostava.
No fim de se perfumar deu-me o frasco.
“É para ti.
Guarda-o.
Para que te lembres sempre de quem o usava”
Estava linda e sorridente.
Mas fiquei desconfiado pelas suas palavras.
“Vamos passear até
lá acima”.
Quando chegamos, perto de onde em tempos lhe tinha prometido passar o
resto das férias com ela, fomos visitar a Capela junto à falésia onde D. Fuas se
terá livrado de morte certa se não tivesse acontecido um “milagre” na sua vida.
Quando estávamos junto do muro da falésia olhei por
alguns segundos para o lado para ver uma menina que me fez lembrar a “nossa
Helena”.
Quando me voltei já o corpo da minha Zingarela ia rolando pelo
rochedo abaixo.
Hoje abri a gaveta que guarda aquilo que tanto gostava de
cheirar na minha zingarelazinha.
Quando segurei o frasco de perfume de tanto chorar até a minha alma gemeu de dor.
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