“JE T'AIME”
LEMBRO-ME COMO SE FOSSE HOJE…
Tinhas vindo de Paris sozinha e estavas perdida nas areias do que hoje é a nossa praia.
Não tinhas a morada dele, nem contactos alguns, porque tinhas acabado de ser assaltada e levaram a tua carteira com toda a documentação e até o dinheiro.
Encontrei-te a chorar junto das rochas, aquelas lá no fundo da praia, as que separam a nossa praia da Praia do Norte.
Rochas que fazem parte da minha vida e do meu passado.
Levei-te onde não querias ir para que a autoridade tomasse conta de ti.
Tudo ficou sem efeito porquanto na frente da antiga lota da nossa praia estava quem tanto procuravas.
“QUE COINCIDÊNCIA” disseste-me tu quando o viste.
Eu disse-te que não há coincidências.
NADA ACONTECE POR ACASO.
Recordo-me como se hoje fosse:
Atravessaste a avenida como uma louca e quase ias ficando debaixo de um carro.
A tua sorte foi o homem ter travado bruscamente o carro senão ficavas debaixo deste.
A meio da avenida gritavas como uma louca.
“… MICHEL, JE T'AIME…”
No passeio apreciava a cena enquanto via o teu vestido a levantar-se no ar por causa do vento e a ver um pouco da tua intimidade.
Tudo passou e uma grande amizade passou a existir entre nós dois.
Hoje sempre que vou à nossa praia gosto de visitar-te nas tuas “Águas Furtadas” porque gosto de ti
Na parede tens – como talismã- o vestido que o Vento quase te tirou.
Já vai para alguns anos que lá está.
Mas o que mais gosto quando abres a porta do “piso de cima” a que tu chamas “águas furtadas” é o cheiro de jasmim do teu perfume.
Um dia quando aí for e encontrar a minha vizinha, aquela que já te falei, apresento-a para que a conheças e “lui parler” com ela.
É boa moça e boa vizinha.
